sexta-feira, 6 de maio de 2011

Medo da camisinha

Esse cenário não surpreende a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa do Adolescente, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. "Hoje, ficou fora de moda ser BV (boca virgem) até entre os mais novos, e o adolescente considera as relações sexuais parte do namoro. Também mostra ambigüidade em relação à idade ideal para a primeira transa – eles dizem 17 anos, mas começam bem antes." Não que seja uma questão cronológica. O que importa é a capacidade de cuidar de si mesmo. E, nesse quesito, eles vão mal.
Na avaliação dos especialistas, as campanhas de prevenção da aids e o aumento da educação sexual nas escolas desde os anos 1980 deram frutos mirrados. Segundo Carmita Abdo, 98% dos adolescentes conhecem anticoncepcionais e sabem que o preservativo é a única proteção contra o HIV. "Só que apenas de 35 a 40% usam camisinha em todas as relações. Eles evitam porque temem perder a ereção ou ejacular precocemente ao colocar o preservativo. E elas não exigem com medo de afastar o parceiro", diz a psiquiatra. A conclusão é que informação não basta. "Enquanto o professor fala de coisas biológicas, eles ficam desenhando corações no caderno. O desafio é dar significado para a proteção e o autocuidado, transformando em 'careta' a atitude de não se prevenir", ensina Albertina, que, com o Programa do Adolescente, vem obtendo resultados animadores em seu estado.
Segundo a Fundação Seade, entre 1998 e 2006, São Paulo teve queda de 32% na ocorrência de gravidez dos 10 aos 19 anos; redução de 34% da segunda gravidez na adolescência; e diminuição de 66% de novos casos de aids entre 15 e 19 anos. O segredo foi compreender que, mais do que tesão, o que motiva muitas dessas relações sexuais é insegurança e desejo de aprovação numa fase em que a insatisfação com o corpo, a incerteza sobre o futuro e as dificuldades no convívio com os pais alimentam a vulnerabilidade do jovem e afetam sua auto-estima. Albertina e seu grupo de trabalho acertaram ao incluir as emoções nas conversas sobre sexualidade e acolher até as dúvidas mais simples, como se ainda vai crescer ou por que está com espinha. "O adolescente precisa desenvolver a segurança para conseguir negociar na relação a dois sem medo de rejeição", conclui Albertina.
Não adianta ter conversas esporádicas nem vir com eufemismos. Segundo a médica, é preciso ser clara ao dizer o que é relação sexual e especificar que pode ser vaginal, oral ou anal. Outro ponto importante é demolir mitos que induzem os adolescentes a práticas de risco, como achar que ninguém engravida na primeira transa ou que basta ejacular fora para evitar a gravidez. Também cabe voltar sempre ao tema e estar atenta aos questionamentos – eles ouvem falar de tudo, mas estão longe de compreender plenamente as implicações e riscos. Sabem, por exemplo, o que é sexo oral, conhecem a "mecânica" da coisa e até podem trocar idéias sobre como apimentar a prática. No entanto, poucos entendem que é possível pegar aids e outras doenças por meio desse contato sexual.
Essa opinião é compartilhada pelo psicólogo Antonio Carlos Egypto, coordenador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), em São Paulo, e autor do livro SEXO, PRAZERES E RISCOS (SARAIVA). Um dos pioneiros na implantação de programas de educação sexual no Brasil, Egypto afirma que o jovem hoje recebe uma carga grande de imagens, textos e produtos relacionados à sexualidade, ao erotismo e à pornografia. "Só que essas coisas têm mais a ver com situações de consumo e se destinam a despertar a excitação. No outro extremo, estão as campanhas de prevenção. No meio de tudo isso está o jovem, incapaz de entender o que se passa com ele e com a sociedade. É aí que entram escola e família", diz ele.
No entanto, a experiência mostra que muitos pais não estão preparados para oferecer uma educação sexual para os filhos e se sentem bastante aliviados quando a escola decide assumir essa tarefa. “Mas apenas eles podem transmitir os valores da família. Esse é um limite que precisa ficar estabelecido desde o início”, pondera Regina Célia Tocci Di Giuseppe, diretora ético-religiosa do Colégio Santo Américo, em São Paulo, que há dez anos inclui o tema na sua grade curricular. Para a psicopedagoga Eleuza Guazzelli, da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a dificuldade familiar está ligada a informações inadequadas, constrangimentos e preconceitos: "A saída é aproximar os pais dos projetos e das ações que desenvolvemos para que aprendam e apóiem os filhos".

Um comentário:

  1. que legal, um blog sobre sexo. interessante.
    sobre seu post, camisinha é muito importante é claro, apenas idiotas a dispensam.
    e nao acho que é por falta de informação, é pq nao estao preocupados mesmo

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